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Sabor da Palavra › 14/02/2018

Tornai-vos santos também em vosso proceder

Tornai-vos santos também em vosso proceder 1Pd 1, 15.

Na água do Batismo fomos “lavados, santificados, justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus” (1 Cor 6,11). Durante toda nossa vida, nosso Pai “nos chama à santidade” (l Ts 4,7). Essa é a urgência de nosso primeiro pedido. (Catecismo da Igreja Católica §2813).

 

Devemos ter plena consciência de que a santidade ou viver como santos não é alguma coisa que nos propomos viver sozinhos e obtê-la com as nossas próprias qualidades e capacidades humanas. Antes de tudo, a santidade é um dom, é uma dádiva que o Senhor Jesus nos oferece e deve ser operativa mediante a graça de Deus, realizada no homem pela força do Espírito Santo. E enquanto batizados, todos os cristãos têm igual dignidade diante do Senhor e são irmanados pela mesma vocação, que é a santidade a serem perfeitos como nosso Deus é perfeito.

Em sua raiz etimológica, o termo, santo, tem seu significado básico de “separado”, “dedicado”, oposto de “profano”. Desse modo, a relação pactual com Deus não apenas separava Israel, mas também exigia padrões éticos. Por outro lado, “a análise de Rudolf Otto da natureza da santidade é amplamente aceita pelos estudiosos e lança luz no conceito bíblico, pois Otto identifica o santo com o “numinoso”, a qualidade misteriosa do divino, que ele descreve como “inteiramente outro”. O que toca o homem na presença do divino é a diferença entre o divino e o criado ((MCKENZIE, 1983, p. 847). Essa afirmativa é suficiente para acentuarmos que, a santidade de Deus atrai o homem para si, pois, a santidade não é somente uma qualidade física ou moral, mas um atributo divino dado ao homem por Deus, para que o mesmo possa manifestar em sua vida a santidade de Deus.

Dito isto, compreendemos que “Deus escolhe e separa um povo, liberta-o da escravidão do Egito e faz com ele uma Aliança: Ele é o Deus de Israel, e Israel é, por sua vez, a nação santa, o povo que pertence a Deus” (KONINGS, 1995, p. 30).  Logo, Israel é um povo santo no sentido de que está em condição de prestar culto a Iahweh.

Tal concepção nos permite afirmar que o povo é santo não por iniciativa própria, mas por iniciativa divina isto é, de Deus mesmo. Contudo, o povo responde a esta convocação na medida em que seu agir ou seu modo de viver a santidade, condiz com a prática do amor e da justiça. Por essa razão, “a santidade de Israel conservar-se-á não só pelo rito cultual, mas também observando os preceitos morais de Iahweh; Israel deve ser santo porque Iahweh é santo” (MCKENZIE, 1983, p. 848).

Como temos dito, o autor primário da santificação do cristão é Deus, e Deus nos santifica através de Jesus Cristo, que é Ele mesmo chamado de santificação do cristão no espírito. Contudo, Mckenzie destaca que há os meios de santificação que orientaram a conduta do cristão na comunidade, e estes meios são: “a fé (Rm 15,16), o batismo (1Cor 6,11), e a união com Cristo, que é instituída pela fé e pelo batismo (1Cor 1,2). O cristão também é santificado pela justiça, e essa justiça consiste em inteira submissão, “escravidão a Deus”. Pedro exorta que o primeiro efeito da santidade cristã é, pois, o empenho em viver a moral cristã e esta santidade deve ser alcançada, sobretudo, com o comportamento santo.

São Pedro 1, 15-16, faz uma exigência aos seus destinatários, na sua maior parte provindos do paganismo dizendo: “como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância, pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque está escrito: Sede santos, porque Eu sou santo. Dessa forma, o homem novo, mediante o batismo é chamado pela força de Cristo Crucificado e glorificado a ser santo, não por uma compreensão moralista de um estilo de vida, mas por participação na santidade de Cristo.

Assim sendo, a conduta dos fieis deve corresponder para com a sua identidade, ou seja, viver como santos, logo, isto implica uma atitude não-conformista em relação ao ambiente pagão. Por outro lado, a pertença a Deus, isto é, ser santos, como Deus é santo, está implicado por uma condicional e por meio da obediência à verdade revelada (Jesus Cristo), pois a mesma desemboca no amor ao próximo. “Amai-vos, pois, uns aos outros, de coração e com ardor”.

Por esse motivo, Pedro exige dos fieis que ‘todas as vossas ações’ espelhem esta santidade de Deus, já que ‘vós sois, uma raça escolhida, um sacerdócio régio, uma nação santa, um povo adquirido para Deus, a fim de que publiqueis o poder daquele que das trevas vos chamou à sua luz maravilhosa” (AQUINO, 2017. p. 1). Vivendo nesta graça santificante, graça cuja garantia já receberam pela ressurreição de Jesus Cristo, os féis depositam nela toda a sua esperança e assumem com toda disposição um estilo de vida adequado pautado pelos valores do Evangelho. Os cristãos chamados a serem de Deus, como está escrito: “vos sois o povo de Deus” (1P 2, 9-1-), devem viver e cumprir sua vocação com o bom procedimento no meio dos gentios, pois, abraçando a fé os cristãos constituem o povo de Deus, uma nação santa chamada a santificar-se mediante a força e a graça do Espírito Santo no seio da comunidade.

Para tanto, (1Pd 1, 17-21) ressalta que os cristãos da comunidade devem lembrar-se de que “foram resgatados da vida fútil entregue aos ídolos dos seus ancestrais pagãos, não por meio de coisas perecíveis, como a prata ou o ouro, mas, pelo sangue preciso de Jesus Cristo, que, como cordeiro sem macha nem defeito predestinado antes da criação do mundo e revelado no final dos tempos, em vosso favor”. Assim sendo, a vida cristã dos fieis da comunidade não deve ser vivida de qualquer modo, mas, seguindo os valores e a dignidade de serem filhos de Deus e, por serem filhos de Deus, a sua conduta deverá ser orientada mediante sua Palavra e não os meros costumes prestados aos ídolos pagãos.

Não obstante, a santidade para a qual Pedro convida os féis é de ordem puramente teologal, isto é, a santidade dos filhos de Deus, pois, seu ideal é que sejam como Deus, isto é, “santos, porque Deus é santo”. Esta perspectiva lembra os convertidos que embora sua conversão fosse intensa, eles precisam perseverar. Pondo toda a esperança na graça que lhes foi comunicada pela revelação de Jesus Cristo Nosso Senhor.

A santidade fundamenta-se na palavra de Deus, para ratificar aos cristãos da comunidade que tal apelo à santidade está em consonância com a Escritura e que de Deus foi extraído. Logo, “o apelo ao falar direto de Deus nas Escrituras também confere solenidade à demanda de santidade, a citação é de Lv 19 e Lv 11, 44s, moldada textualmente pela Septuaginta, a tradução grega do AT. Sendo “povo de Deus”, nação santa, os crentes são chamados assim, a produzirem na sua vida o caráter do Deus Santo que os chamou” (MUELLER, 1988, p. 103). Desse modo, a santificação da vida é o maior louvor que prestamos a Deus, não mediante meras palavras, mas, sobretudo, através de ação, e a mesma constitui o elemento mais sublime de nossa vida. Portanto, ao falarmos a respeito da santidade em seu sentido etimológico que consiste num elemento de separação, de distinção do profano, a santificação em seu âmbito concreto confirma-se e efetiva-se, não mediante méritos humanos, mas mediante o dom de Cristo.

Tornar-vos santos também em vosso proceder, comporta em sua identidade um indicativo e um estilo de vida em conformidade com os ensinamentos do evangelho, pois, a santidade adquirida, sobretudo, no “batismo” deve ser santidade vivida. Diante desse cenário que exorta a comunidade a viver como santa em todo seu proceder, a mesma deve ter a consciência de que, “a salvação em Cristo deve conduzir à santidade, na verdade, ela é doação de santidade, doação do Espírito de santidade, que deve agora se expressar concretamente em santidade vivida, pois, o seu fundamento é a morte de Cristo na cruz, o sangue derramando para nos resgatar do modo de vida anterior, não-santo.” (MUELLER, 1988, p. 97). Essa afirmativa nos permite ponderar que, a graça da salvação corresponde a um santo estilo de vida como povo de Deus, estilo este que será necessário para poder perseverar e enfrentar um ambiente de vida pagão hostil. Para tanto, a comunidade é chamada a torna-se santa como Aquele que a chamou.

Texto: Seminarista Anderson da Silva Galvão – 4° Ano de Teologia.

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.

AQUINO, Felipe Disponível em <https://formacao.cancaonova.com/diversos/chamados-a-santidade/> Acessado em: 16 de Outubro de 2017.

BROWN, R. Novo comentário Bíblico São Jerônimo: Novo Testamento. São Paulo: Ed. Academia Cristã. Paulus, 2011.

COTHENET, Edouard. As epístolas pastorais. São Paulo: Paulus. SP, c1995. 78 p.

KONINGS, Johan. WALTRAUD, Krull. Cartas de Tiago, Pedro, João e Judas. São Paulo: Loyola, 1995.

MCKENZIE, J. L. Dicionário Bíblico. São Paulo: Paulus, 1983.

MUELLER, Ênio R. I Pedro, introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1988.

 

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