O querigma pascal anunciado pelos apóstolos e discípulos de Jesus após sua Ressurreição está resumido nessas palavras: “Jesus de Nazaré foi um homem que Deus confirmou entre vocês, realizando por meio dele os milagres…e sinais que vocês conhecem. E Deus…permitiu que Jesus lhes fosse entregue, e vocês…o mataram, pregando-o numa cruz. Deus, porém, ressuscitou Jesus…” (At 2,22-24: Pedro no dia de Pentecostes).
Assim está escrito no Novo Testamento, sobretudo nos Evangelhos (Jesus anunciou várias vezes sua crucificação, morte e ressurreição aos discípulos) e nos Atos dos Apóstolos. No entanto, da Palavra escrita e anunciada até o encontro pessoal com o Ressuscitado pode se tornar um caminho mais ou menos longo na vida de cada pessoa. A providência e sabedoria divinas sabem melhor a hora e a maneira de acender a chama viva da fé e a gente entender que o Cristo me amou até o fim:
• pode ser num momento místico durante uma celebração ou adoração eucarística;
• pode ser por ocasião de um grande sofrimento, de uma grande culpa e da experiência do perdão no sacramento da reconciliação;
• pode ser pela vivência amorosa, respeitosa na família;
• pode ser a participação e o serviço gratuito na comunidade eclesial, sobretudo em tempos fortes como a Semana Santa;
• e pode acontecer no encontro com os leprosos de hoje, como aconteceu com Francisco de Assis, pois nesta hora, o Ressuscitado converte em doçura o que parece amargo para nós.
Páscoa é a inversão surpreendente de Deus para que nós nos convertêssemos a Ele. Isto demonstra nitidamente uma oração da Liturgia maronita que se encontra no final da Via Sacra contida no antigo Cantos e Orações, um livro foi muito usado na década de 70 e 80 nas comunidades cristãs:
Nós te glorificamos, Senhor Jesus
Tu te abaixaste para nos salvar
Tu te humilhaste para nos exaltar
Tu te fizeste pobre para nos enriquecer
Homem nasceste, para que pudéssemos nascer
Prisioneiro te fizeste e nos libertaste
Foste julgado criminoso e nos deste a inocência
A ti as bofetadas, a nós o teu carinho
Despojamos-te das vestes e nos revestiste de graça
Nós te crucificamos e tu nos salvaste
A ti o fel e o vinagre, a nós o teu amor
A ti a morte, a nós a vida
Mas ressuscitaste para repartir conosco tua glória
Subindo ao céu, para o alto nos atrais
Enviaste o Paráclito à Igreja para que sejamos santos
Amém.
As obras falam mais alto do que palavras, por isso, para finalizar nossa reflexão sobre o sentido da Semana Santa, citou dois exemplos de uma real Páscoa em nossos dias que considero magníficos:
• a atuação da vereadora Marielle Franco Presente nas favelas do Rio de Janeiro, para mim, é um ícone da trajetória de Jesus de Nazaré: “a cruz não foi capaz de silenciar a voz de Jesus, e aqueles tiros não foram capazes de silenciar a voz de Marielle” (pastor Henrique Viera);
• as acusações falsas e a prisão arbitrária do padre José Amaro em Anapú, prelazia do Xingú-PA, que continuou a luta da Irmã Dorothy pelos sem voz e sem terra, para mim, demonstra que “o servo não é maior do que o seu senhor” (Jo 15,20): o padre sofre o mesmo que Jesus sofreu, mas também, se sustenta na promessa da Ressurreição;
• a juventude nos EUA, estudantes e universitários, que a dezenas de milhares se manifesta nas ruas das cidades contra o livre uso das armas enfrentando a poderosa NRA e sua lobby, para mim, é sinal de esperança de que o respeito à vida vence e não a lei do ódio e do mais forte e que, enfim, os poderosos serão derrotados pelos pequenos que não são nada para este mundo.
Somente pela fé na Ressurreição poderemos superar a violência, romper os círculos viciosos da violência, pois “o amor tem forças que a violência não domina” (Via Sacra do Regional NE V).
E você?! Onde enxerga sinais do Crucificado-Ressuscitado no mundo, na Igreja, ao seu redor e na sua vida?
Peço a Deus que nos dê a graça de entrarmos ainda mais no mistério da Páscoa de seu Filho amado.
Johannes Gierse, frade e menor